top of page

VERÃOZÃO #2 -  24/01 ao 07/02 de 2020

scroll down for english text

A Verãozão é marcada pela abundância da estação que a acolhe. Calor e águas. Plantios. O trabalho convive com a fruição da fazenda, e a troca acontece em ambiente protegido. Parte dos convidados são ex-residentes, fortalecendo a nossa comunidade de troca, que se amplia com marinheiros novos, inclusive três habitantes de São José do Vale do Rio Preto.

O grupo incluiu pesquisadores (filosofia e biologia), agentes das artes (musica, arte contemporânea, cinema...), e teve como convidados dois facilitadores que propuseram dinâmicas: o terapêuta tântrico Renê Caffaro e a chef de cozinha ecológica Nancy Mora. Formamos um grupo heterogêneo e complementar, habitando junto, e refletindo sobre formas de habitar. Construimos um minhocário, meditamos em grupo, aprendemos receitas colombianas e ucrânianas... ao passo em que avançávamos produções artísticas e pesquisas autorais, em diversos formatos e mídias.

Realizamos um dia de Portas Abertas para receber a comunidade local, durante o qual oferecemos apresentações musicais, exposição de artes visuais, oficinas para crianças e adultos, projeções e fogueira noite adentro. Após a imersão, realizamos um encontro na extinta casa noturna "Geral" no Rio de Janeiro, e uma noite de apresentações musicais na casa de shows Audio Rebel, também no Rio.



 

Registro fotográfico de Alexandre Furcolin

O que é uma residência artística?


por Thainá Branco



 

Essa foi a primeira pergunta que me apareceu, depois que o meu amigo Antônio Sobral fez o convite para participar da residência Verãozão.

Como cresci em São José do Vale do Rio Preto e confesso não ter passeado por muitas outras regiões, minha realidade e meus círculos socais sempre foram os mesmos, enraizados dentro de uma determinada geografia (penso que a geografia afeta a personalidade, mas esse não é o caso para agora).
Minha relação com a arte sempre foi distanciada, embora o belo me espantasse. Seja qual for o entendimento do belo.

Em Baudelaire, o belo é aquilo que permanece, ao mesmo tempo em que é transitório. Para mim, essa idéia apresenta o belo como o sinto, fixo e conhecido, e também transitório, portanto desconhecido. Essa contradição me apareceu enquanto vivia a residência. A geografia, o lugar em que a casa se instala, representava o belo já conhecido, e a ideia de uma residência, o novo, que devia ser entendido como transitório. Um transitório que se fixou. A fixação se deu através do afeto, não foi por nenhuma obra material produzida, mas pelo fortalecimento de amizades.

Em Espinoza, a ética consiste no afeto, em como sou afetada pelo que me circunda. Na amizade, o afeto aumenta ou diminui o que o pensador chama de Conatus, que pode ser traduzido para “potência de vida”.
Um bom encontro aumenta a potência de vida, já um mau, se desvela em tristeza, diminuindo o Conatus.
 As amizades que construí na residência, aumentaram a minha potência de vida, e essa foi a fixação na efemeridade de um encontro de quinze dias. O transitório, a convivência dentro da casa, se transformou em algo fixo, do lado de fora. Até hoje levo o afeto.

Segundo Baudelaire, O homem é capaz de criar a partir do momento em que aceita a transitoriedade de sua obra. Só consegui fixar o afeto, a partir do momento em que percebi e aceitei a transitoriedade. A única certeza, era de que aquele momento iria acabar, mas a obra afetiva que construí dentro da casa, se fixou do lado de fora.


 

Dia-a-dia

Dispositivo com câmera obscura, por Tiago Rivaldo (evento Portas Abertas)

Neus Borrell e Bru Ferri ensaiando no estúdio

Evento "Portas abertas"

VERÃOZÃO #2 -  24/01 until 07/02 of 2020

"Verãozão" means "big summer" in portuguese. It's a residency for both working and enjoying life, a nice moment to be at the São João farm's protected environment and community. Time of tropical humidity. Part of the residency group consisted of ex-residents, strengthening our community bounds, and part of invited artists and researchers, including 3 residents from the countryside region we inhabit.


The group was composed by artists (musicians, contemporary artists, filmmakers...), researchers (in the realms of philosophy and botany), a therapeut (Tantra and Reiki) and a cook/agroecological activist, all coming from different countries and brazilian regions. We formed a heterogeneous and multidisciplinary group, living together and reflecting about it. Knowledge transfer and sharing was fundamental. Our collaborative calender helped organizing activities and workshops such as readings, meditations, cooking, bio-construction, drawing and musical improvisations. In the meantime, everyone was conducting personal researches and/or creating artistic work.


During this process we hosted an Open Doors day, in order to interact with the local community, in which we offered workshops for children and adults, presented a visual arts exhibition,  concerts and projections, ending up around a fire in the garden. After the residency, we hosted two events in the city of Rio de Janeiro, broadening the reach of our experience and our interaction with the "outside".
 

Neus Borrell and Bru Ferri playing at the Open Doors event (excerpt)

Late night improvisation by Daniel Toledo, Felipe Neiva and Bru Ferri

What is an artistic residence?
by Thainá Branco

That was the first question that came to my mind after my friend Antônio Sobral invited me to take part in the summer residence Verãozão. As I grew up in São José do Vale do Rio Preto and, being honest, I have not traveled through many other regions, my reality and my social circles have always been the same, taking root in a certain geography (I think geography affects personality, but that is not the case for now).

Although I have always been estranged from art, beauty has always amazed me. Whatever the understanding of beauty may be. In Baudelaire, it is what remains, while it is transitory too. For me, this idea presents the beauty as I feel it, fixed and known, and also transitory, therefore, unknown. This contradiction came to me while I was living the residence. Geography, the place where the house settles, represents a known beauty, and the idea of a residence, a new one, which should be understood as something transitory. A transient that has settled itself. This settling took place through affection, not by any material work produced, but by strengthening friendships.

According to Espinoza, ethics consists of affection, the way I am affected by what surrounds me. In friendship, affection increases or diminishes what the author calls Conatus, which could be translated as "the power of life". The transient, the coexistence inside the house, has turned into something fixed on the outside. I carry all the affection with me up until now.

As Baudelaire says, “a man is able to create from the moment he accepts the transience of his work”. I only was able to fix the affection from the moment I realized and accepted the transience. The only certainty I had was that moment would have an end, but the affective work I had built inside the house would settle outside.

PD_piramide.jpg

Construção da pirâmide de bambu e folhas de palmeira, por Daniel Toledo e Mari Bley, em foto de Alexandre Furcolin

bottom of page